terça-feira, 17 de outubro de 2017

GPESEG Explica!: Sustentabilidade no processo de medicação.




Sustentabilidade no Processo de Medicação

Por: Patriny Marcelle Mariano Gomes 

De acordo com o filósofo, escritor e teólogo Leonardo Boff, sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas, informacionais e físico-químicas que sustentam todos os seres, a terra, a comunidade e a vida humana, visando a sua continuidade e necessidades da geração presente, por meio da regeneração, reprodução, e coevolução do capital natural.1 A temática da sustentabilidade ambiental tem sido amplamente discutida ao redor do mundo. Nesse contexto, os serviços de saúde têm grande importância, não só pelos possíveis impactos gerados, como pelo papel essencial que pode ser desempenhado para a promoção da saúde ambiental na sociedade.2

Mesmo em meio ao seu papel na prevenção de agravos e na promoção de saúde, as instituições hospitalares produzem vários efeitos ambientais negativos capazes de ameaçar a saúde e o bem-estar humano. Nos ambientes hospitalares dois fatores são responsáveis por grande impacto ambiental, como o consumo desenfreado de recursos e a geração de Resíduos de Serviços Saúde (RSS). A disposição inadequada desses resíduos causa grandes prejuízos à saúde pública em decorrência da contaminação dos solos e acidentes ocupacionais.

O processo de medicação é uma das principais atividades assistenciais realizadas nos serviços de saúde. Além da equipe de enfermagem, médicos e farmacêuticos estão intimamente ligados às etapas do processo, que consistem em: prescrição, revisão, validação da prescrição, dispensação, preparo, administração, avaliação e monitoramento da ação ou reação ao medicamento, e descarte. Entre essas etapas, a enfermagem é a grande responsável pelo preparo, administração e descarte dos resíduos medicamentosos.3  

De acordo com Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), os resíduos químico-farmacêuticos são pertencentes do Grupo B e necessitam de cuidados especiais para sua manipulação, armazenamento e descarte.4 Aqueles que não forem submetidos ao processo de reutilização, recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a tratamento e disposição final específicos. Entre os medicamentos que podem apresentar risco à saúde pública e ao meio ambiente, podemos citar os antimicrobianos, citostáticos, antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos, imunomoduladores e anti-retrovirais.4

O impacto do processo de medicação na saúde ambiental não está atrelado somente ao momento de descarte dos resíduos do Grupo B. Uma pesquisa realizada em uma unidade clínica médico-cirúrgica localizada no município de São Paulo, demonstrou as ações com impactos ambientes desde a prescrição de medicamentos até o descarte pela enfermagem. O estudo demonstrou pontos cruciais que devem ser melhorados nesse processo, sendo eles: excesso de papéis utilizados na transcrição das prescrições; excesso de embalagens e etiquetas por conta da dispensação pela dose unitária; abertura de vários frascos da mesma medicação sem necessidade; grande volume de medicamentos não administrados; descarte de medicamentos após a alta e descarte incorreto desses resíduos.

Faz-se necessário ter um olhar mais atento para o processo de medicação, bem como para outros processos assistenciais no meio hospitalar. Inadequação logística, falta de treinamento, ausência de co-responsabilização pelos profissionais e práticas ultrapassadas e não coordenadas, podem afetar a saúde ambiental e gerar uma lacuna no dever de prevenção das institucionais hospitalares. Os profissionais de saúde têm grande responsabilidade para a promoção de uma cultura de segurança e práticas sustentáveis no meio intra-hospitalar, de forma a reduzir o impacto que a assistência pode causar ao meio ambiente e à saúde pública.

 REFERÊNCIAS
1 – Leonardo Boff. Sustentabilidade: Tentativa de definição. Jornal do Brasil, 2012.
2 - Furukawa PO, Cunha IC, Pedreira ML, Marck PB. Sustentabilidade ambiental nos processos de medicação realizados na assistência de enfermagem hospitalar. Acta Paul Enferm. 2016; 29(3):316-24.
3 - Furukawa PO, Cunha ICKO, Pedreira MLG. Avaliação de ações ecologicamente sustentáveis no processo de medicação. Rev Bras Enferm [Internet]. 2016 jan-fev;69(1):23-9.
4 – Manual de Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde / Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

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