Sustentabilidade no Processo de Medicação
Por: Patriny Marcelle Mariano Gomes
De acordo com o filósofo, escritor e teólogo Leonardo Boff,
sustentabilidade é toda ação destinada a manter as condições energéticas,
informacionais e físico-químicas que sustentam todos os seres, a terra, a
comunidade e a vida humana, visando a sua continuidade e necessidades da
geração presente, por meio da regeneração, reprodução, e coevolução do capital
natural.1 A temática da sustentabilidade ambiental tem sido
amplamente discutida ao redor do mundo. Nesse contexto, os serviços de saúde
têm grande importância, não só pelos possíveis impactos gerados, como pelo
papel essencial que pode ser desempenhado para a promoção da saúde ambiental na
sociedade.2
Mesmo em meio ao seu papel na prevenção de agravos e na
promoção de saúde, as instituições hospitalares produzem vários efeitos
ambientais negativos capazes de ameaçar a saúde e o bem-estar humano. Nos
ambientes hospitalares dois fatores são responsáveis por grande impacto
ambiental, como o consumo desenfreado de recursos e a geração de Resíduos de
Serviços Saúde (RSS). A disposição inadequada desses resíduos causa grandes
prejuízos à saúde pública em decorrência da contaminação dos solos e acidentes
ocupacionais.
O processo de medicação é uma das principais atividades
assistenciais realizadas nos serviços de saúde. Além da equipe de enfermagem,
médicos e farmacêuticos estão intimamente ligados às etapas do processo, que
consistem em: prescrição, revisão, validação da prescrição, dispensação,
preparo, administração, avaliação e monitoramento da ação ou reação ao
medicamento, e descarte. Entre essas etapas, a enfermagem é a grande
responsável pelo preparo, administração e descarte dos resíduos medicamentosos.3
De acordo com Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(ANVISA), os resíduos químico-farmacêuticos são pertencentes do Grupo B e
necessitam de cuidados especiais para sua manipulação, armazenamento e
descarte.4 Aqueles que não forem submetidos ao processo de
reutilização, recuperação ou reciclagem, devem ser submetidos a tratamento e
disposição final específicos. Entre os medicamentos que podem apresentar risco
à saúde pública e ao meio ambiente, podemos citar os antimicrobianos,
citostáticos, antineoplásicos, imunossupressores, digitálicos, imunomoduladores
e anti-retrovirais.4
O impacto do processo de medicação na saúde ambiental não
está atrelado somente ao momento de descarte dos resíduos do Grupo B. Uma
pesquisa realizada em uma unidade clínica médico-cirúrgica localizada no
município de São Paulo, demonstrou as ações com impactos ambientes desde a prescrição
de medicamentos até o descarte pela enfermagem. O estudo demonstrou pontos
cruciais que devem ser melhorados nesse processo, sendo eles: excesso de papéis
utilizados na transcrição das prescrições; excesso de embalagens e etiquetas
por conta da dispensação pela dose unitária; abertura de vários frascos da
mesma medicação sem necessidade; grande volume de medicamentos não
administrados; descarte de medicamentos após a alta e descarte incorreto desses
resíduos.
Faz-se necessário ter um olhar mais atento para o processo de
medicação, bem como para outros processos assistenciais no meio hospitalar.
Inadequação logística, falta de treinamento, ausência de co-responsabilização
pelos profissionais e práticas ultrapassadas e não coordenadas, podem afetar a saúde
ambiental e gerar uma lacuna no dever de prevenção das institucionais
hospitalares. Os profissionais de saúde têm grande responsabilidade para a
promoção de uma cultura de segurança e práticas sustentáveis no meio
intra-hospitalar, de forma a reduzir o impacto que a assistência pode causar ao
meio ambiente e à saúde pública.
1 – Leonardo Boff. Sustentabilidade: Tentativa de definição.
Jornal do Brasil, 2012.
2 - Furukawa PO, Cunha IC, Pedreira ML, Marck PB. Sustentabilidade
ambiental nos processos de medicação realizados na assistência de enfermagem
hospitalar. Acta Paul Enferm. 2016; 29(3):316-24.
3 - Furukawa PO, Cunha ICKO, Pedreira MLG. Avaliação de ações
ecologicamente sustentáveis no processo de medicação. Rev Bras Enferm
[Internet]. 2016 jan-fev;69(1):23-9.
4 – Manual de Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde
/ Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Brasília:
Ministério da Saúde, 2006.
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