terça-feira, 21 de agosto de 2018

GPESEG Explica! – Uso Racional de Antimicrobianos: uma necessidade à saúde pública


Por: Thamires Máximo

Os antimicrobianos correspondem a uma classe farmacológica que tem por função prevenir ou tratar infecções por meio da diminuição ou eliminação de bactérias patogênicas¹. É válido ressaltar que a classe supracitada costuma ser prescrita de forma excessiva, cerca de 50% das prescrições destas medicações são desnecessárias². Tal quadro acelera e agrava a resistência bacteriana a antimicrobianos, que pode ser definida como capacidade que um determinado microrganismo tem de crescer em um ambiente com uma concentração adequada de antibiótico, seja em vitro ou no
sangue¹.

O fenômeno citado é natural uma vez que analisamos que o uso da antibioticoterapia eliminará primordialmente os microrganismos mais frágeis, o que acaba por gerar uma seleção natural das bactérias mais resistentes. Ademais o crescimento dessa resistência tem se dado de forma exacerbada, uma vez que os fármacos são utilizados de modo inadequado³. Estima-se que até 2050 teremos 10 milhões de mortes por ano em decorrência desse problema⁴.

A resistência microbiana é uma importante questão de saúde pública, uma vez que aumenta a taxa de morbidade e mortalidade, os custos de internação, prolonga a doença e torna parte dos tratamentos ineficazes ⁵. Esse quadro não está presente apenas em ambiente hospitalar, mas estende-se também a comunidade, gerando bactérias comunitárias multirresistentes que são de difícil tratamento².
O uso racional de antimicrobianos é uma das metas definidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o século XXI. Com o intuito de criar barreiras para evitar o uso indevido de antibióticos visando alcançar a meta da OMS a ANVISA publicou a RDC nº 20/2011 que estabelece critérios para prescrição, venda e uso de antimicrobianos⁶. Apesar disso a OMS coloca o Brasil como um dos países mais atrasados na criação de um plano de ação visando o combate à resistência a antibióticos.

Para que avancemos a fim de chegar no uso racional de antimicrobianos é necessário que os profissionais façam análise criteriosa quanto a necessidade do uso da medicação, tempo de uso, posologia, escolha do fármaco mais adequada para o paciente, além de doses apropriadas. É de suma importância investir na educação continuada dos mesmos, por meio de capacitações presenciais ou a distância, assim como seminários e treinamentos. As instituições públicas e privadas também devem manter seus protocolos atualizados e sempre a disposição de seus colaboradores⁵.

Educar a população é outro viés fundamental para se alcançar o uso correto desta classe farmacológica. Tanto os clientes quanto seus familiares devem ser informados e orientados quanto a medicação prescrita e qual efeito desejado. Essa orientação deve levar em conta a realidade da população atendida. Além disso, é necessário instruir sobre armazenamento, posologia, forma de uso, possíveis interações com outros medicamentos, não utilização de sobras de tratamentos anteriores e não utilização de medicação sem prescrição adequada de profissionais da saúde⁵.

Diante do que foi abordado percebe-se a necessidade de a população em geral entender os malefícios do uso indiscriminado deste tipo de medicação. Tal conscientização deve ocorrer de modo conjunto a mudança das práticas, a fim de não agravarmos ainda mais a resistência bacteriana aos antimicrobianos.

REFERÊNCIAS
1. Universidade Federal de Goiás. Guia de Antimicrobiano [Internet]. 2012 [acesso em
2018 maio 31]; 2. Disponível em: https://farmacia.hc.ufg.br/up/734/o/Guia_de_Antimicrobianos_do_HC-UFG.pdf?1409055717.
2. Ministério da Saúde. Uso Racional de Medicamentos Temas Selecionados [Internet].
2012 [acesso em 2018 maio 31]; 21. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/uso_racional_medicamentos_temas_selecionados.pdf.
3. Loureiro RJ, Roque F, Rodrigues AT, Herdeiro MT, Ramalheira E. O Uso de Antibióticos e as Resistências Bacterianas: Breves Notas Sobre a sua Evolução. Rev port saúde pública [Internet]. 2016 [acesso em 2018 maio 31]; 34(1):77–84. Disponível em: http://www.elsevier.pt/pt/revistas/revista-portuguesa-saude-publica-323/pdf/S087090251500067X/S300/.
4. Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente. Resistência a antibióticos: Brasil está entre os mais atrasados em plano de ação [Internet]. 2018 [acesso em 2018 julho 23]. Disponível: https://www.segurancadopaciente.com.br/seguranca-e-gestao/resistencia-a-antibioticos-brasil-esta-entre-os-mais-atrasados-em-plano-de-acao/.
5. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Diretriz Nacional para Elaboração de Programa de Gerenciamento do Uso de Antimicrobianos em Serviços de Saúde [Internet]. 2017 [acesso em 2018 maio 31]; 19-20; 46-47. Disponível: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33852/271855/Diretriz+Nacional+para+Elaboração+de+Programa+de+Gerenciamento+do+Uso+de+Antimicrobianos+em+Serviços+de+Saúde/667979c2-7edc-411b-a7e0-49a6448880d4.
6. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução-RDC Nº 20, de 5 de Maio de 2011. [acesso em 2018 maio 31]. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/sngpc/Documentos2012/RDC%2020%202011.pdf.

Nenhum comentário:

Postar um comentário