quarta-feira, 24 de abril de 2019

GPESEG EXPLICA! - Segurança do Paciente no uso de Medicamentos

 Por: Juliana Viana Braga Carvalho

A preocupação com a qualidade da assistência à saúde vem tomando destaque a alguns anos principalmente após a criação do programa Aliança Mundial para a Segurança do Paciente que convocou os países a adotarem medidas para assegurar a qualidade e a segurança na assistência prestada nas unidades de saúde¹. 

O termo segurança do paciente, bastante difundido atualmente, diz respeito à redução ao mínimo aceitável do risco de danos associados ao cuidado em saúde. Atualmente um dos assuntos centrais da temática tem sido a assistência segura relacionada a medicamentos devido ao seu elevado potencial de risco, frequência, gravidade e recorrência de danos ao paciente²,³. 

A segurança relacionada a medicamentos é também conhecida como segurança medicamentosa e recebeu destaque pela Aliança Mundial para a Segurança do Paciente, no ano de 2017, após a temática ser assunto central do terceiro Desafio Global, intitulado “Medicação sem danos”.  As estatísticas em todo mundo já indicavam a necessidade de melhorar a segurança na assistência à saúde com ênfase no uso de medicamentos². 

Segundo o Instituto de Medicina, ao ano ocorrem 1,5 milhão de eventos adversos e 7.000 mortes nos Estados Unidos da América (EUA) devido a erros relacionados a medicamentos. Outro estudo realizado nos EUA aponta que cada paciente internado em hospital norte-americano está sujeito a um erro de medicação por dia, e que anualmente são registrados 400.000 eventos adversos relacionados a medicamentos, o entre outras consequências impacta nos custos do sistema de saúde¹,³. No Brasil as taxas de erros de medicação estiveram, em 2011, por volta de 64,3%, se comparadas a outros países, destacando-se nas etapas de preparo e administração de medicamentos4.

Grande parte dos processos assistenciais realizados em ambiente hospitalar envolve o uso de medicamentos. A utilização destes para o tratamento e a prevenção de doenças tem crescido exponencialmente, graças, entre outros fatores, ao aumento da sobrevida da população. Esta prática traz consigo riscos que podem levar a eventos adversos e, por consequência, aumentar o tempo de hospitalização, conduzir a morbidades adicionais, entre outros. Sendo assim, é necessário que o uso de medicamentos seja realizado de forma segura¹,³. 

O uso de medicamentos em instituições de saúde ocorre por meio de processos complexos, multidisciplinares e interligados, interdependentes e realizados por profissionais de diferentes áreas, o que requer comunicação eficaz entre os componentes da equipe. Sendo assim, há necessidade de uma eficiente interação entre os profissionais, a fim de promover condições que os auxilie a prevenir erros assegurando uma assistência mais segura aos pacientes5. 

Para tornar o uso de medicamentos mais seguro para o paciente, é importante identificar os fatores de risco que contribuem para os incidentes. Para isso, é necessário conhecer as falhas fundamentais e os problemas de desenho do sistema de medicamento, bem como eventos que trazem graves danos para o paciente³. 

Quando falamos em uso de medicamentos, temos a participação de diferentes profissionais nesse complexo sistema composto por etapas. O conhecimento dessas etapas e o uso de estratégias podem ajudar os profissionais envolvidos a evitar a ocorrência de erros e danos desnecessários associados à terapia medicamentosa.

Etapas do sistema de medicamentos 1,5. 
A prescrição, primeira etapa do sistema de medicamentos, consiste na escolha apropriada do medicamento para cada situação clínica. É o ponto de partida para o uso de medicamentos e impacta diretamente nas etapas subsequentes, pois pode induzir a erros;
A dispensação consiste na distribuição do medicamento pelo serviço de farmácia/suprimentos para as unidades requisitantes. O uso de estratégias como a distribuição de medicamentos com doses unitárias pode prevenir a ocorrência de erros em outras etapas, como na etapa do preparo;

O preparo consiste na técnica de manipulação dos medicamentos para administrar ao paciente, de acordo com a prescrição e dispensação. Requer atenção, conhecimento prévio sobre a droga e habilidade técnica para ser realizado de forma adequada;

A administração é uma etapa crítica, pois é a última etapa para interceptar e prevenir erros relacionados às etapas anteriores. Consiste na aplicação do medicamento ao paciente;
O monitoramento, última etapa do sistema, corresponde à observação continuada do paciente submetido à terapêutica e abrange observação de aspectos técnicos e clínicos. 

Diante da possibilidade de se prevenir erros relacionados ao uso de medicamentos e do risco de danos em função de sua ocorrência, torna-se relevante identificar a natureza e os determinantes dos erros a fim de promover ações de prevenção já que as falhas no uso de medicamentos contribuem fortemente para a redução da segurança do paciente³. 

Dessa forma, a fim de tornar o uso de medicamentos em ambiente hospitalar mais seguro, é necessário a inclusão de estratégias que padronizem os processos envolvidos no uso de medicamentos, uso de recursos de tecnologia de informação, a realização de atividades de educação permanente e acompanhamento das práticas profissionais em todas as etapas relacionadas ao uso de medicamentos¹,³. 


Referências:
Uso seguro de medicamentos: guia para preparo, administração e
monitoramento / Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. – São
Paulo: COREN-SP, 2017. Disponível em: http://www.coren-sp.gov.br/sites/default/files/uso-seguro-medicamentos.pdf 

Medication Without Harm - Global Patient Safety Challenge on Medication Safety. Geneva: World Health Organization, 2017. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/255507/1/WHO-HIS-SDS-2017.11-eng.pdf

Brasil. Protocolo de segurança na prescrição, uso e administração de medicamentos do Ministério da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. Disponível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/item/seguranca-na-prescricao-uso-e-administracao-de-medicamentos

RODRIGUEZ, L;  Ofelia, E;  et al . Assistência segura ao paciente no preparo e administração de medicamentos. Rev. Gaúcha Enferm.,  Porto Alegre ,  v. 38, n. 4,  e2017-0029,    2017 . Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-14472017000400408


Silva, JSD; Almeida, PHRF; Perini, E; et al. Erros de prescrição e administração envolvendo um medicamento potencialmente perigoso. Rev enferm UFPE on line., Recife, 11(10):3707-17, out., 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/13807/24405


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