quarta-feira, 5 de junho de 2019

GPESEG Explica! - INCIDENTES ASSOCIADOS A CATETER VESICAL DE DEMORA: PROTAGONISMO DA EQUIPE DE ENFERMAGEM E A SEGURANÇA DO PACIENTE


Por: Matheus Kirton

O cateterismo vesical (CV) consiste em uma técnica invasiva, que ocorre por meio da introdução de um cateter através do meato uretral até a região interna da bexiga, objetivando estabelecer uma via de drenagem de urina, por tempo determinado (permanente ou intermitente), com fins terapêuticos ou diagnósticos. (RIVERO et al., 2012)

Atendendo as necessidades clínicas do paciente, segundo Barros et al. (2016) o cateterismo vesical pode ser dividido em duas classes principais: cateterismo vesical de demora (CVD), relacionado a uma longa permanência no trato urinário, e cateterismo vesical de alívio (CVA), utilizado em períodos intermitentes com curta permanência no trato urinário.

Na prática clínica, verifica-se que há uma maior preferência na utilização do CVD, chegando a um percentual no Brasil de 10% dentre os pacientes hospitalizados.
Do mesmo modo, percebe-se essa mesma preferência em âmbito mundial, já que
segundo o Departament of Health (2001), 12,6% dos pacientes internados na Inglaterra utilizam CVD.

Conterno et al. (2011), aponta em seu estudo que cerca de 20% a 50% dos pacientes hospitalizados são submetidos a cateterização vesical, sendo que aproximadamente 38% dos médicos podem não saber que o paciente está sondado, o que implica e contribui diretament para que o uso do cateter vesical seja além do tempo necessário.

A utilização e permanência excessiva do cateter vesical de demora, de acordo com Barros et al. (2016) pode acarretar ao paciente eventos adversos como dor, sangramento, desconforto, trauma e até mesmo uma grave infecção. Frente a ocorrência de tais incidentes, segundo Cestari et al. (2017) a segurança do paciente, aproximadamente nos últimos quinze anos, tornou-se uma grande preocupação e prioridade entre a equipe de saúde, o que pode-se observar mediante a criação de políticas internacionais e protocolos que visam a redução e controle dos riscos de incidentes associados ao serviço de saúde.

A WHO (2016) define incidentes como eventos ou circunstâncias que poderiam ter resultado, ou resultou, em dano desnecessário ao paciente; podendo ser classificados em: circunstância notificável, near miss, incidente sem dano e incidente com dano (ou também denominado de evento adverso-EA).
Nessa perspectiva, Cestari (2017) afirma que os incidentes classificados pela segurança do paciente, ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes internados e podem ser relacionados com infecções decorrentes do cuidado de saúde, equipamentos médicos dentro outros. A ocorrência desses em paciente com CVD, inspira da equipe de enfermagem grande atenção, uma vez que suas complicações podem levar agravos ao quadro clínico do paciente. Tal questão pode ser explicada uma vez que, por exemplo pacientes com CVD estão submetidos à um maior risco de desenvolver uma infecção do trato urinário (ITU). Estima-se que 35% a 45% das infecções hospitalares são devido a ITU, dessas 80% estão associadas à cateter vesical de demora. (CONTERNO et al., 2011)

Além da infecção do trato urinário, outros incidentes podem estar associados como: traumatismo uretral, falso trajeto, litíase urinária renal e vesical, uretrite, fístula uretral, prostatite, necrose peniana e câncer de bexiga. Dessa forma, os riscos de incidentes advindos do uso de CVD podem ser classificadas, de acordo com Tolentino et al. (2014), de duas formas: traumáticos (fatores que podem causar ou causaram um trauma) ou infeciosos (fatores que podem causar ou causaram uma infecção).
Rivero et al. (2012), refere em seu estudo que alguns fatores de risco podem potencializar a ocorrência de incidentes, podendo esses serem extrínsecos e/ou intrínsecos. Os fatores de risco intrínsecos, associados aos não modificáveis, são: idade acima de 50 anos; sexo feminino, patologia de base, por exemplo diabetes mellitus; disfunções anatômicas do trato urinários etc. Já os fatores extrínsecos, os modificáveis, estão relacionados por exemplo à duração do CV; ausência de antibioticoterapia profilática, técnica de inserção e cuidados na manutenção do cateter. Tanto os fatores de risco intrínsecos como os extrínsecos merecem um olhar peculiar da equipe multiprofissional, principalmente a da enfermagem, uma vez que o enfermeiro assume todo o protagonismo da manutenção do cateter vesical de demora, atuando como uma das principais barreiras na ocorrência de incidentes, os quais podem gerar graves complicações à saúde do paciente.

Tal protagonismo é reforçado e determinado pela resolução COFEN nº 413 de 2013, a qual normatiza que o procedimento de Cateterização Vesical é de função privativa do enfermeiro, frente a sua natureza invasiva e complexidade. Todavia não há nenhuma especificação que aborde a privatização da manutenção do cateter vesical sendo, portanto, responsabilidade compartilhada de toda a equipe de enfermagem. Em suma, na prática assistencial a equipe de enfermagem participa de todas as etapas do procedimento de cateterismos vesical, desde a inserção até retirada. Nesse, uma das etapas que mais desperta o acometimento de incidente tange ao manejo diário para a manutenção do cateter. Essa pode ser exemplificada com os procedimentos rotineiros da equipe como: o esvaziamento constante da bolsa coletora, o clampeamento do circuito para movimentação do paciente, a fixação adequada do cateter vesical etc. Segundo Rivero et al. (2012) caso haja falhas nesse processo, há uma grande chance de haver diferentes tipos de incidentes, com níveis de gravidade acentuados, de origem infeciosas e/ou traumáticas.

Sendo a enfermagem a principal atuante em todo o processo de cateterismo vesical de demora, torna-se importante que toda a sua ação, voltada principalmente para a manutenção, sejam pautados em conhecimento técnicos, científicos e gerenciais, vislumbrando evitar o aparecimento dos diferentes tipos de incidentes e a garantia da segurança do paciente. De acordo com Tolentino et al. (2014), uma das formas de alcançar tal objetivo é o estabelecimento de parâmetros mensuráveis, para que haja a implementação de programas e protocolos, baseados nas recomendações científicas mais atuais, que
norteiem a prática do cuidado de enfermagem.

Dessa forma, cabe ao enfermeiro acompanhar as potenciais circunstâncias que podem ou não provocar danos, afim de propor medidas contensoras para ocorrências de incidentes, visando a capacitação da sua equipe para a prestação de um cuidado especializado e seguro, conferindo ao paciente melhor bem-estar e sucesso na sua terapêutica clínica.

REFERÊNCIAS
RIVERO PAM, PACHECO IA, RIVERO AM. Protocolo basado en la evidencia de los cuidados de los cateteres urinários en unidades de cuidados intensivos. Enferm Intensiva [on line]; 23(4):171-178. 2012. Disponível em: http://www.elsevier.es/es-
revista-enfermeria-intensiva-142-articulo-protocolo-basado-evidencia-los-cuidados-S1130239912000193

BARROS LAA; PAIVA SS; GONÇALVES FA; SOUSA, SMA. Risk nursing diagnostics for adverse events in bladder catheterization installation delay. Rev. enferm. UFPE [on line]; 10(9): 3302-3312. 2016. Disponível em:
http://pesquisa.bvs.br/brasil/resource/pt/bde-30075CONTERNO LO, LOBO JA, MASSOM W. 

Uso excessivo do cateter vesical em pacientes internados em enfermarias de hospital universitário. Rev Esc Enferm USP [on line]; 45(5):1089-96. 2011. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0080-62342011000500009

WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). A taxonomy for Patient Safety. [on line]. 2016. Disponível: http://www.who.int/patientsafety/implementation/taxonomy/en/

TOLENTINO ACMS, SCHUTZ V, PEREGRINO AAF et al. Perfil epidemiológico dos pacientes na uti, em uso de cateter vesical de demora. Rev enferm UFPE [online]; 8(10):3256-65, out. 2014. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/view/10055

CESTARI VRF; FERREIRA MA; GARCES TS; MOREIRA TMM; PESSOA VLMP; BARBOSA IV. Aplicabilidade de inovações e tecnologias assistenciais para a segurança do paciente: revisão integrativa. Cogitare Enferm. [on line]; (22)3: e45480. 2017. Disponível em: http://www.saude.ufpr.br/portal/revistacogitare/wpcontent/uploads/sites/28/2017/07/45480-212388-1-PB.pdf

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