terça-feira, 20 de agosto de 2019

GPESEG EXPLICA! A Importância da passagem de plantão eficaz e suas contribuições para a segurança do paciente



Por: Fernanda de Padúa Soares. Acadêmica de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery. Membro do  Grupo de Pesquisa e Extensão em Segurança e Sustentabilidade em Saúde- GPESEG.



  Transições de cuidados são um conjunto de ações destinadas a garantir a coordenação e continuidade segura e eficaz dos cuidados dos clientes no momento de mudança do estado de saúde, das necessidades de cuidado, e dos prestadores de cuidado ou localização (dentro , entre ou fora dos setores que se encontram)1.
  Um dos momentos que essa transição ocorre é durante a passagem de plantão ( ou troca de turno ou entrega de turno ),  que é o momento em que a equipe de enfermagem se reúne para realizar o relato sobre o estado de saúde de cada paciente, assim como alterações ocorridas durante o turno e a identificação de necessidades para o planejamento e execução de medidas de enfermagem que possibilitem a eficácia do tratamento 3.  Tem o objetivo de transmitir informação direta, clara e concisa sobre acontecimentos ocorridos 2. 
  Essa prática utiliza-se da comunicação como instrumento básico de enfermagem, favorecendo o compartilhamento de informações que se constituem por dados (registro de fatos) ordenados de forma coerente e significativa para fins de compreensão e análise de cada caso 2. É um momento de extrema importância para a boa assistência ao paciente, tanto que é uma das metas de segurança do paciente estabelecidas pelo ministério da saúde  "comunicação efetiva" ,e  dentro dessa meta, a certificação de que todas as informações estão sendo bem passadas e bem recebidas durante a troca de turno 4.
  No entanto, vem ocorrido a banalização desse momento, uma vez que está sendo incorporada a rotina de trabalho como mais uma tarefa, e não a um etapa de reflexão e atenção ao que está sendo passado 2 . Esse é um tipo de situação a qual pode gerar graves consequências ao paciente e/ou a instituição. Uma pesquisa realizada em hospitais afiliados à Harvard identificou a comunicação como um fator crítico em 30% dos casos de negligência examinado pelo CRICO Strategies. Os casos, incluindo 1.744 mortes, envolvem histórias graves e falhas na comunicação 5.
  Esse mesma pesquisa conta o caso de  uma mulher que pediu que suas trompas fossem amarradas após a entrega de um bebê através de uma cesariana, mas suas instruções não foram compartilhadas com o obstetra de plantão. A paciente registrou uma queixa de negligência quando engravidou novamente. E um outro caso, a qual uma enfermeira falhou em dizer a um cirurgião que um paciente sentia dor abdominal e uma queda no nível de glóbulos vermelhos após a operação - sinais alarmantes de possível sangramento interno. O paciente morreu depois de uma hemorragia 5.
   Estudos sugerem que a passagem de plantão a beira leito, em forma de "rounds" ou " rondas" são muito eficazes pois favorecem que a enfermeira que está recebendo o plantão veja o paciente por si própria, além de permitir que o paciente faça parte desse momento, até respondendo perguntas sobre seu estado, diminuindo a possibilidade de perda de informação, e transformando o paciente como agente ativo do cuidado, além de fazer dele mais uma barreira para evitar erros. 3
  Vê- se que toda transição de cuidado carrega um potencial de dano, e todas merecem ser analisadas para promover reduções de riscos. Nesse aspecto é de extrema importância a necessidade de formar profissionais da saúde que compreendam a importância do trabalho em equipe e da educação continuada em saúde, tanto para o paciente quanto para a própria equipe.6
  Nessa perspectiva, nota-se a importância da boa comunicação durante uma passagem de plantão tanto para o paciente, quanto para a equipe e instituição, a fim de evitar erros.
Cabe ao enfermeiro a gestão e a educação em saúde continuada e permanente, a fim de garantir uma boa assistência ao paciente e um bom gerenciamento do serviço.





REFERENCIAS
1)  Registered Nurses’ Association of Ontario. Care transitions. Toronto: RNAO; 2014. Clinical best practice guidelines. Disponível em: https://rnao.ca/sites/rnaoca/files/Care_Transitions_BPG.pdf.
2) Silva, É. E., & de Freitas Campos, L. (2007). Passagem de plantão na enfermagem: revisão da literatura. Cogitare Enfermagem12(4).
3) do Amaral Oscar, M. F. Análise da passagem de plantão na unidade de enfermagem do serviço de radiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Revista Gaúcha de Enfermagem17(2), 109..

4) Ministério da Saúde;  Programa Nacional de Segurança do Paciente: estado da arte e perspectivas”; 2013
5) Bailey, M. Communication failures linked to 1.744 deaths in five years, US malpractice study finds. STAT, 01 Fev 2016.
6) Barcellos, G. B. (2014). Comunicação entre os profissionais de saúde e a segurança do paciente. Sousa P, Mendes W. Segurança do paciente: criando organizações de saúde seguras. Rio de Janeiro: Fiocruz, 139-58.

Um comentário:

  1. Gostei muito do estudo! E como acadêmica de enfermagem e paciente em alguns hospitais, percebo nitidamente essa falha! Às vezes com coisas sérias como alergias e outras com relação ao tipo de banho que o paciente está fazendo. E concordo plenamente com a passagem de plantão por rounds, como já vivenciei isso eu afirmo que melhora muito o cuidado com o paciente.

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