Por: Fernanda de Padúa Soares. Acadêmica de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery. Membro do Grupo de Pesquisa e Extensão em Segurança e Sustentabilidade em Saúde- GPESEG.
Transições
de cuidados são um conjunto de ações destinadas a garantir a coordenação e
continuidade segura e eficaz dos cuidados dos clientes no momento de mudança do
estado de saúde, das necessidades de cuidado, e dos prestadores de cuidado ou
localização (dentro , entre ou fora dos setores que se encontram)1.
Um
dos momentos que essa transição ocorre é durante a passagem de plantão ( ou
troca de turno ou entrega de turno ), que
é o momento em que a equipe de enfermagem se reúne para realizar o relato sobre
o estado de saúde de cada paciente, assim como alterações ocorridas durante o
turno e a identificação de necessidades para o planejamento e execução de
medidas de enfermagem que possibilitem a eficácia do tratamento 3. Tem o objetivo de transmitir informação
direta, clara e concisa sobre acontecimentos ocorridos 2.
Essa
prática utiliza-se da comunicação como instrumento básico de enfermagem,
favorecendo o compartilhamento de informações que se constituem por dados
(registro de fatos) ordenados de forma coerente e significativa para fins de
compreensão e análise de cada caso 2. É um momento de extrema
importância para a boa assistência ao paciente, tanto que é uma das metas de
segurança do paciente estabelecidas pelo ministério da saúde "comunicação efetiva" ,e dentro dessa meta, a certificação de que
todas as informações estão sendo bem passadas e bem recebidas durante a troca
de turno 4.
No
entanto, vem ocorrido a banalização desse momento, uma vez que está sendo
incorporada a rotina de trabalho como mais uma tarefa, e não a um etapa de
reflexão e atenção ao que está sendo passado 2 . Esse é um tipo de
situação a qual pode gerar graves consequências ao paciente e/ou a instituição.
Uma pesquisa realizada em hospitais afiliados à Harvard identificou a
comunicação como um fator crítico em 30% dos casos de negligência examinado
pelo CRICO Strategies. Os casos, incluindo 1.744 mortes, envolvem histórias graves
e falhas na comunicação 5.
Esse
mesma pesquisa conta o caso de uma
mulher que pediu que suas trompas fossem amarradas após a entrega de um bebê
através de uma cesariana, mas suas instruções não foram compartilhadas com o
obstetra de plantão. A paciente registrou uma queixa de negligência quando
engravidou novamente. E um outro caso, a qual uma enfermeira falhou em dizer a
um cirurgião que um paciente sentia dor abdominal e uma queda no nível de
glóbulos vermelhos após a operação - sinais alarmantes de possível sangramento
interno. O paciente morreu depois de uma hemorragia 5.
Estudos sugerem que a passagem de plantão a
beira leito, em forma de "rounds" ou " rondas" são muito
eficazes pois favorecem que a enfermeira que está recebendo o plantão veja o
paciente por si própria, além de permitir que o paciente faça parte desse
momento, até respondendo perguntas sobre seu estado, diminuindo a possibilidade
de perda de informação, e transformando o paciente como agente ativo do
cuidado, além de fazer dele mais uma barreira para evitar erros. 3
Vê- se que toda
transição de cuidado carrega um potencial de dano, e todas merecem ser
analisadas para promover reduções de riscos. Nesse aspecto é de extrema
importância a necessidade de formar profissionais da saúde que compreendam a
importância do trabalho em equipe e da educação continuada em saúde, tanto para
o paciente quanto para a própria equipe.6
Nessa
perspectiva, nota-se a importância da boa comunicação durante uma passagem de
plantão tanto para o paciente, quanto para a equipe e instituição, a fim de
evitar erros.
Cabe ao enfermeiro a
gestão e a educação em saúde continuada e permanente, a fim de garantir uma boa
assistência ao paciente e um bom gerenciamento do serviço.
REFERENCIAS
1) Registered Nurses’ Association of Ontario. Care
transitions. Toronto: RNAO; 2014. Clinical best practice guidelines. Disponível
em: https://rnao.ca/sites/rnaoca/files/Care_Transitions_BPG.pdf.
2) Silva, É. E., & de Freitas Campos, L.
(2007). Passagem de plantão na enfermagem: revisão da literatura. Cogitare
Enfermagem, 12(4).
3) do Amaral Oscar, M. F. Análise da passagem de
plantão na unidade de enfermagem do serviço de radiologia do Hospital de
Clínicas de Porto Alegre. Revista Gaúcha de Enfermagem, 17(2),
109..
4) Ministério
da Saúde; Programa Nacional de Segurança
do Paciente: estado da arte e perspectivas”; 2013
5) Bailey, M. Communication
failures linked to 1.744 deaths in five years, US malpractice study finds. STAT, 01 Fev 2016.
6)
Barcellos, G. B. (2014). Comunicação entre os profissionais de saúde e a
segurança do paciente. Sousa P, Mendes W. Segurança do paciente:
criando organizações de saúde seguras. Rio de Janeiro: Fiocruz, 139-58.
Gostei muito do estudo! E como acadêmica de enfermagem e paciente em alguns hospitais, percebo nitidamente essa falha! Às vezes com coisas sérias como alergias e outras com relação ao tipo de banho que o paciente está fazendo. E concordo plenamente com a passagem de plantão por rounds, como já vivenciei isso eu afirmo que melhora muito o cuidado com o paciente.
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